“O Senhor disse: ‘Esse povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam é feita só de regras ensinadas por homens.’” Isaías 29:13
O que te move como cristão? Melhor ainda, por que você se define como um cristão? Muitas vezes, buscamos na religião um sentido, pertencimento ou apoio emocional. No entanto, nossa percepção de Deus pode ser influenciada por diversas motivações, muitas vezes levando à idolatria.
Idolatria é qualquer forma de substituição ou distorção da verdadeira adoração de Deus, ocorrendo quando colocamos algo ou alguém no lugar que pertence exclusivamente a Ele. É essencial perceber a distinção entre religião e religiosidade, pois, embora compartilhem similaridades, podem facilmente nos enganar. Nossa religiosidade muitas vezes obscurece o propósito essencial da religião: restaurar a ligação entre nós, seres humanos, e Deus, o Ser Supremo, o Transcendente, ou qualquer concepção que busquemos Nele. No fim das contas, há o risco que leva à objetificação de Deus.
Neste cenário, sutil e aparentemente inofensivo, Deus é colocado em um pedestal inatingível e isolado. Ele é concebido como uma entidade distante, cuja principal função é servir como um símbolo de autoridade moral ou cultural. Essa visão leva a uma prática religiosa rígida e dogmática, onde a adoração é feita mais em respeito à tradição e a uma “imagem de Deus” concebida pelo grupo, com base em suas próprias visões e entendimentos, afastados daquilo que Deus apresenta na Bíblia (apesar de utilizarem referências textuais aparentemente consoantes ao que se prega) do que a um relacionamento vivo e pessoal. Em Isaías 29:13, lemos que “O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu”. Sabe o que é interessante sobre essa passagem? Ela foi referida pelo próprio Cristo, por exemplo, em Mateus 15:7-9: “Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito”!
Karl Barth, um teólogo reformado, argumenta que a idolatria é uma forma de tentativa humana de autojustificação, onde criamos um deus à nossa imagem para justificar nossos desejos e ações. Algumas tradições religiosas destacam excessivamente a justiça e a ira de Deus, retratando-O como um juiz severo e impiedoso. Isso pode levar a um medo servil, em vez de um temor reverente, e pode obscurecer a misericórdia e a graça de Deus (presente desde Genesis ao Apocalipse!). Portanto, na tentativa de adorar a Deus, caímos na armadilha tentadora de querer moldar Deus segundo nossa vontade e nosso entendimento, transformando nossa adoração em idolatria. Pensamos estar adorando a Deus, mas, no fundo, apenas idolatramos nossos egos e, o que é pior, condenamos, sentados na cadeira de juiz que nunca foi nossa, aqueles em nosso redor que não obedecem ou enxergam tais “mandamentos de homens” como sagrados.
Precisamos entender que adorar a Deus verdadeiramente significa conhecê-Lo e adorá-Lo conforme revelado nas Escrituras e na pessoa de Jesus Cristo. Isso envolve um equilíbrio entre a transcendência e a imanência de Deus, Sua justiça e misericórdia, Sua soberania e amor. Todas essas características são complementares e simultâneas, não antagônicas. Não é um “Deus de amor, mas também justiça”, mas sim “amor e, por causa disso, justiça”! Santo Agostinho e Tomás de Aquino destacam a importância do conhecimento verdadeiro de Deus para uma adoração adequada, baseados no estudo das Escrituras para conhecer o caráter, a vontade e os propósitos de Deus (conforme Paulo ensina em 2Tm 3:16 e 17). A oração é um relacionamento contínuo com Deus, que é mais do que pedir coisas; é comunhão íntima e submissão à vontade de Deus. Portanto, a adoração verdadeira é consequência do reconhecimento dEle como redentor, não causa. Em João 4:23-24, Jesus ensina que Deus deve ser adorado em espírito e em verdade. Adoração verdadeira transcende rituais externos e reflete um coração verdadeiramente rendido a Deus.
Mesmo quando dirigida a uma imagem distorcida de Deus, a idolatria é uma tentativa de controlar e domesticar o divino para satisfazer nossos desejos. Precisamos estar vigilantes para não cair na armadilha de criar um “deus” à nossa imagem, mas sim, adorar o Deus verdadeiro, revelado em Jesus Cristo e nas Escrituras. Deus deseja um relacionamento pessoal e autêntico com os seus adoradores, onde a prática religiosa é acompanhada de justiça, humildade, e verdadeira devoção, e não meramente respeito à tradição ou cumprimento de rituais.